Há mais de 10 anos eu soube de algo que deixou sobressalente
em mim o desejo de me tornar um jornalista. A morte de Tim Lopes. E queria me
tornar um Tim Lopes, jornalista que doava a própria vida em busca de uma
notícia que valesse a pena.
Curioso ver desabrochar um desejo diante de uma notícia
ruim. Poderia ter me emocionado ao ler/ouvir/ver uma reportagem salvando vidas.
Mas a busca por uma matéria sobre tráfico de drogas tirou a vida de Tim Lopes.
O reconhecimento pelo trabalho bem feito o levou para morte. Um representante
da associação de jornalistas investigativos disse certo dia algo mais ou menos
assim: “O que matou Tim Lopes foi ele ter aparecido para receber o prêmio de
melhor matéria. O rosto dele ficou conhecido e quando os traficantes o
reconheceram subindo o morro acabaram matando Tim”.
Neste dia, depois do dia do repórter, percebo que muitos
jornalistas são mortos em busca da notícia, outros matam a sua profissão por
fazer um jornalismo para o próprio umbigo, outros, ainda, se matam profissionalmente
em busca de fama a qualquer preço.
O repórter tem o direito de fazer uma matéria assistida
pelo computador, mas precisa pôr o pé na rua para sentir o cheiro da riqueza e
da pobreza, para sentir na pele a ignorância dos que estudam anos e daqueles
que nunca puderam ler um livro. A colega de profissão Schirlei Alves escreveu
algo no Twitter há um tempo: “fazer entrevista/matéria por telefone é como tomar
cerveja sem álcool”.
Quando percebo em mim que o meu jornalismo está sendo
sufocado pelo meu ego, olho à minha volta e me dou um choque de realidade: eu não
faço nem 10% do que poderia. As pessoas têm mais esperanças num repórter do que
num político para resolução dos problemas. Não que o jornalismo tenha que viver
de denúncias, nem o repórter tenha que resolver todos os problemas do povo, mas
por estarmos num meio de comunicação de massa, temos que pelo menos ajudar as
pessoas. Foi mais ou menos assim as palavras que ouvi do radialista Arivan
Prochnown durante entrevista na semana do dia do rádio, este ano.
Que nós, repórteres, possamos reportar a verdade, somente a
verdade. Se não for pela verdade eu me pergunto: repórter pra que?
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