domingo, novembro 20, 2011

Agradecido

Obrigado, mas não sou obrigado.
A briga é aceitar ou não.
A brigada se forma.

Aceitar ou não, o brinde?
Brinde é brinde,
Se for dado é doado.

Brindar o brinde dado é:
Aceitar sem tituBear,
Mesmo que bem não tenho ficado.

Obrigado é obrigar.
Reconhecer o brinde doado é:
Ser agradecido.
Agradecer é melhor.
Agradecido.

sexta-feira, novembro 18, 2011

140 toques

Diga-me, qual o tamanho ideal de texto?
Quanto toques posso dar ao teclado para ser lido na totalidade?
É a geração do 140, de uma página, do vídeo, do captar tudo de primeira.

Tenho eu que ler o poema até o final?
Prestigiar, cooperativar, colaborar?

Acabou o tempo...

quarta-feira, novembro 16, 2011

Ensaio

Escrever poesia e atuar são duas das muitas coisas que somos capazes de fazer sem muito esforço.

Deixar o coração doer ao lembrar a existência vazia ou do amor tristonho.
Lembrar do primeiro encontro, beijo, transa, primeira paixão.

Outras duas coisas que somos capazes de fazer sem muito esforço, ler e silenciar.

terça-feira, novembro 15, 2011

Gestos

Da janela do décimo andar, Miriam admirava o nada. A mente estava em outro lugar. Pensava no marido que naquele exato momento embarcava no ônibus direto para Porto Alegre. Presenciava em si mesma o momento de crise de amor, que já vira acontecer em suas amigas. A música clássica, quase no último volume, fazia surgir um sentimento de lamento da não ida à rodoviária dar o adeus temporário. A cada nota aguda do violino elevava-se a dor de não ter dito o que devia, na hora em que precisava.

A força do vento fez subir o pacote plástico vazio, que percorria em zig-zag os carros, desviava-se dos passantes e parava num poste de sinalização. Até outro vento soprar e levá-lo onde não pretendia ir. Subia e descia em instantes, furando o céu nublado. Os ventos quentes e frios brigavam por ele, anunciando a chuva que viria. A cada viagem, percorria e presenciava, sem pedir licença, a rotina dos apartamentos que se erguiam diante do mar cada vez mais poluído. Em sua visão plongê tentava entender a paciência daqueles que estavam no congestionamento às seis da tarde. Mas sua vida de pacote plástico não o deixava chegar a conclusão alguma.

Os primeiros pingos de chuva fizeram Miriam fechar a janela, e numa decisão de lavar a alma, ela ligou para o marido. Conversaram alguns minutos, desculpando-se entre si pelos atos de ciúme e intolerância.

A início da chuva forte e o vento colaram o pacote na janela do prédio. A água vinha lavar a poluição das calçadas fazia juntar os vários pacotes de diferentes cores e formatos. O pacote escorregou do topo do prédio até chegar no chão limpo e molhado. Era à tarde que morria deixando a falsa impressão de ter vivido um dia feliz.

Jeferson Corrêa

Conto "Gestos" retirado do Livro do Silêncio, editora SESC-SC, 2008

Homem duplo

Olhou através da vidraça e deu de cara com o irmão gêmeo, depois percebeu que era um espelho.