segunda-feira, julho 09, 2007

Fuga na luta pela vida

Já decidi, vou morar longe da cidade. Afastado, no campo. Pretendo fugir do barulho dos carros, do volume irritante da televisão dos programas inúteis, longe do som alto das músicas que desrespeitam o vizinho que mora a dois metros da minha porta. Quero distância da poluição dos automóveis que transitam sem necessidade e deixam gordos e doentes seus motoristas. Meu sonho é morar numa rua que a água possa entrar na terra depois da chuva. Sem que ela precise esbarrar no asfalto opaco, deslizar para o esgoto podre e só depois vá parar no rio morto pela nossa poluição consumista.

Lutarei por uma casinha modesta, pelos menos para não pagar o aluguel caro de um lugar ruim. Neste mesmo lugar, plantarei frutas, verduras e outros mais, para não comer do veneno dos agrotóxicos que ao poucos mutarão minha pretensa geração. Educarei meus filhos diferente das doutrinas religiosas preconceituosas, racistas e capitalistas. Mostrarei para eles que todos são iguais no direito à vida e no modo como guiá-la, desde que respeitem o outro.

Esse tal progresso, que a maioria pensa, é sinônimo de ter carros, prédios, shoppings, ruas asfaltadas e tecnologia cada vez mais restrita aos ricos, deixando ao pobre somente a sucata digital. Progresso não é ter aparelho de microondas, DVD, MP4 ou telefone celular. Isto tudo, combinado com o mau uso, distancia as pessoas, extermina a conversa entre os comuns e faz cada um criar um mundo paralelo particular, que leva a loucura e ao suicídio da personalidade.

Moro em Brusque há sete anos, aqui conheci pessoas boas, que me ajudaram e deram oportunidade de crescer. Sou grato por isso. Mas antes de vir pra cá, ouvi dizer que aqui era cidade de 1º mundo. Acredito que 1º mundo, no dicionário de alguns, é ter carro. Pois foi isso que encontrei por aqui. Só tem valor e vida social em Brusque quem tem carro para passear como idiotas, se matando em cada reta ou curva da cidade. Aqueles que não têm esse tal carro, ou moram pagando aluguel caro de um cubículo mal dividido e úmido perto do centro, ou moram num bairro não muito distante, onde o ônibus passa cinco vezes por dia.

Às vezes penso em fugir daqui e desse planeta, mas como isso não é possível, por enquanto, ficarei aqui e lutarei para que esse lugar se torne melhor. Compartilharei da minha idéia de que a vida não é só dinheiro, consumismo e antipatia. Tentarei fazer desse povo pessoas mais simpáticas e alegres com a vida.

Por fim, direi aos meus filhos: progresso é melhorar e progredir no espaço em que vivemos, sem agredir parte alguma. Talvez o dicionário precise de um significado mais otimista para certas palavras.

Jeferson Luiz Corrêa*
* O autor é assistente universitário e estudante de jornalismo

Artigo publicado do Jornal Tribuna Regional em 6 de julho de 2007
http://www.adjorisc.com.br/jornais/tribunaregional/noticias/index.phtml?id_conteudo=102698

3 comentários:

Drika disse...

Inicialmente parabéns pelo artigo publicado..
ideia compartilhada com certeza caro amigo.
Voce disse tudo...
Quem sabe seremos vizinhos de sitio?
Dakeles que o vizinho mais proximo mora a uns 5 km? hein hein? ahahuahu

amei o artigo
mesmo mesmo

bjaum querido

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Tá ficando famoso esse meu amigo... heheheh
realmente o artigo mereceu ser publicado.
Sabe acho que eu não conseguiria viver no campo. Mas quem sabe um dia não possa me acostumar. O silêncio as vezes me sufoca. Por mais que as vezes eu procure o silêncio como refúgio, viver eternamente nele me dá medo, me irrita, me deixa sem graça, me deixa de mau-humor. Mas nada que com o tempo não possa ser repensado.Quem sabe não tenha um dia uma bela casa no campo, onde eu viva feliz, sozinho e com um belo lago para passar o resto dos dias de minha vida pescando...
Mas eu sou urbano...
Se bem que na cidade também fico sozinho da mesma forma. Tem tanta gente ao redor, que as pessoas quase nem se notam mais. Viramos apenas mais um número que logo será ultrapassado por outro tão grande quanto ele. Mas talvez essa falsa sensação de cheio de gente ao redor, esse barulho todo é um meio de fulga. Onde eu finjo que me notam. Que estou cheio de gente, mas vivo sozinho, tanto quanto na minha casa de campo, pescando no meu belo lago.